KARL BARTH
O
teólogo reformado suíço Karl Barth é considerado por muitos, o maior teólogo
protestante do século XX. O movimento teológico iniciado por Barth foi chamado
"Neo-ortodoxia", ou então "Teologia da crise", ou ainda
"Teologia dialética".
Sua
influência expandiu-se muito além do domínio acadêmico, chegando a incorporar a
cultura, o que levou a Barth ser
apresentado na capa da revista Time em 20 de abril de 1962.
Karl
Barth nasceu em Basiléia, Suiça, em 10 de maio de 1886. Foi sua origem suíça, que, durante o período
nazista, colocou-o em condições de opor-se a Hitler sem graves consequências; o
máximo que o nacional-socialismo pôde fazer contra ele foi repatriá-lo. Da terra suíça, parece que Barth herdou também
muitas convicções políticas e sociais: o apego à democracia, uma tendência ao
conservadorismo, a desconfiança em relação aos blocos políticos, uma propensão
para a neutralidade (entre Rússia e Estados Unidos).
Filho de pais protestantes, recebeu sua
educação religiosa inicial na Igreja Reformada. Seus estudos teológicos, iniciados em sua
pátria, mais precisamente em Berna, foram prosseguidos na vizinha Alemanha,
tendo passado pelas Universidades de Berlim, Marburg e Tübingen. Seus professores
foram os mestres mais célebres do último liberalismo teológico: Harnack,
Gunkel, Schlatter e Herrmann.
Wilhelm
Herrmann (1846-1922) foi o mestre mais estimado por Barth e do qual assimilou
mais profundamente as doutrinas. Em
1925, Barth dizia recordar "como se fosse hoje" o dia em que lera
pela primeira vez a Ética de Herrmann, exprimindo ainda uma profunda estima
pelo seu professor de Marburg.
Concluídos
seus estudos, foi convidado a ser assistente da paróquia reformada suíço-alemã
de Genebra. Em 1911, foi promovido a pastor de Safenwill, onde transcorreram os
dez anos decisivos da maturação do seu pensamento teológico. A experiência pastoral mostrou-lhe
imediatamente a incongruência entre o que havia estudado e as exigências da
vida cristã. Quando subiu ao púlpito, percebeu
a inutilidade de todos os estudos histórico-críticos da vida de Cristo e do
Evangelho. Aquilo que o povo lhe pedia
era o anúncio da Palavra de Deus e não doutas dissertações sobre aquilo que pertencia
à história e aquilo que pertencia à fé. Então, Barth começa a "dedicar-se
a um intenso estudo da Bíblia, no qual imerge ainda mais, quando se desencadeia
a Primeira Guerra Mundial. Mesmo
resguardado pela neutralidade suíça, Barth não sente de maneira alguma estar
fora da confusão e nem deseja estar. Participa
intensamente de cada fase da luta e compreende claramente que, em meio às
explosões das bombas e aos gritos dos moribundos, a pregação só tem sentido se
não ressoa como uma mensagem incolor e insípida, inadequada para a época,
carente de resposta às dramáticas interrogações espirituais colocadas à
humanidade pelo difundir-se da guerra e de suas atrocidades. A pregação deve reabrir todas as questões, deve
ouvi-las e iluminá-las numa nova perspectiva, deve colocá-las diante duma
escala de valores objetivos que dê ao espírito perturbado dos homens a
serenidade, a coragem, a fé num Deus cujo amor parece vilipendiado pelos
acontecimentos". Aí encontramos
duas das mais importantes características da teologia que Barth começava então
a construir: profunda inspiração bíblica e ilimitada abertura para todos os
problemas do homem moderno.
Dentre
os textos da Sagrada Escritura, o que Barth mais preferia para suas meditações
era a Epístola aos Romanos. A assídua leitura desse texto teve sobre ele o
mesmo efeito que tivera sobre Lutero. Este
havia encontrado nele um novo conceito da justificação: a justificação apenas
pela fé. E Barth reencontrou substancialmente a mesma
mensagem: de novo a sola fides, mas, desta vez, não enquanto contraposta às
obras, mas sim enquanto oposta à razão.
Com
efeito, o jovem pastor de Safenwill elaborou o Der Rómerbrief (Carta aos
Romanos, 1919). Nele combate o
racionalismo, o humanismo e o liberalismo, que tinham invadido a teologia
protestante no século XIX, e traz novamente à luz a unicidade e o paradoxo da
fé bíblica. Contra a teologia liberal,
que eliminara a infinita distância que separa o homem de Deus e a razão da Revelação,
Barth, inspirando-se em Kierkegaard, reivindica a infinita diferença
qualitativa "entre religião natural e Revelação, entre filosofia e Bíblia. Para dar relevo a tal
diferença, utiliza o método dialético do "não" de Deus a tudo aquilo a
que o homem diz que "sim"”.
O
Der Romerbrief suscitou interesse e viva reação em todos os ambientes
teológicos da época, em particular no protestantismo alemão. Mais tarde, Barth
escreveria a propósito: "Pareço mais um rapaz que, subindo ao campanário
da igreja paroquial, puxa uma corda ao acaso e, sem querer, coloca em movimento
o sino maior: trêmulo e amedrontado, percebe que acordou não apenas sua casa, mas
também a aldeia inteira".
Em
1921, Karl Barth é nomeado "professor honorário de teologia reformada"
na Universidade de Gõttingen. Lá, em 1922,
juntamente com E. Thurneysen e F. Gogarten, funda uma revista que leva o
significativo nome de "Zwischen den Zeiten": entre os tempos, entre
Pentecostes e o advento do Reino, ou seja, no tempo da paciência de Deus, que é
também o tempo da Igreja.
Em
1926, deixa Gõttingen e parte para Münster, na Westfália, onde se torna sempre
mais claramente precisa a linha teológica original e independente que se manteria
como tal até hoje. Em 1927, inicia a
publicação de um grande tratado de dogmática, intitulado Die Christliche Dogma
ti*(A Dogmática Cristã). Também nessa obra, a exemplo de Der Rómerbrief , continua
se utilizando da linguagem existencialista kierkegaardiana para exprimir a
mensagem cristã.
Portanto,
está convencido de que a linguagem dos existencialistas é a mais apta para
traduzir o Evangelho a uma linguagem inteligível para nossa geração: "A
Palavra de Deus", afirma ele, "é um conceito só acessível ao
pensamento existencial". Certamente, Barth não subordina a Revelação ao
existencialismo na mesma medida de Bultmann. Entretanto, nesse primeiro projeto de teologia
sistemática, a "Palavra de Deus" é de tal modo condicionada pela
antropologia existencialista que, concluído o primeiro volume, Barth se dá conta
de que não podia mais continuar trilhando aquele caminho. Por essa razão, em 1932, retoma o projeto desde
o início, com Die Kirchliche Dogmatik (A Dogmática Eclesiástica).
Fonte
Mondin, Battista - Os grandes teólogos
do século vinte[tradução José Fernandes: revisão de Luiz Antonio Miranda]
Reedição — São Paulo: Editora Teológica, 2003
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