“FAZER-SE COMO... PARA...”

 


EM BREVES PALAVRAS

Por Mano Gois

Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos para ganhar ainda mais.
E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei.
Para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei.
Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns.
E, eu faço isto por causa do evangelho, para ser também participante dele.


                                                                                                                       1 Coríntios 9:19-23

 

“FAZER-SE COMO... PARA...”

 

Para inicio de conversa, diria que, duas atitudes precisam ser evitadas para uma compreensão saudável desse texto:  Primeiro, fugir da sedução de pensarmos esse texto como uma armadilha religiosa para capturar prosélitos.  Segundo, não entendermos a exposição do apostolo como uma expressão de um indivíduo sem identidade própria.  Além do fato de ele mesmo dizer: “eu faço isto por causa do evangelho”, parece-me que o apóstolo está abrindo o coração e revelando a mais pura motivação da sua vida, e o quanto ele encarnou o evangelho que pregava e, se deu aos grupos que desejou alcançar.  Sugiro então, que um mergulho nesse texto nos conduza a uma compreensão do “Fazer-se como... para...” em quatro dimensões.  Lembrando que a proposta de compreensão em dimensões é por uma questão pedagógica.

1.      A DIMENSÃO DOS SENTIMENTOS  – Falo do fato, de estarmos com os sentidos abertos para com o outro.  A isso, a Escritura chama de compaixão, evidentes em textos como:

“E, Jesus, saindo, viu uma grande multidão, e possuído de íntima compaixão para com ela, curou os seus enfermos.   Mateus 14:14

Então Jesus, movido de íntima compaixão, tocou-lhes nos olhos, e logo seus olhos viram; e eles o seguiram.”  Mateus 20:34

“E, vendo-a, o Senhor moveu-se de íntima compaixão por ela, e disse-lhe: Não chores.”   Lucas 7:13

“Então o Senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida.”   Mateus 18:27

“Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão;”   Lucas 10:33

“E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.”   Lucas 15:20

“E Jesus, movido de grande compaixão, estendeu a mão, e tocou-o, e disse-lhe: Quero, sê limpo.”   Marcos 1:41

Para isto, precisamos lidar e superar mesquinhos sentimentos da alma empobrecida, como:

O EGOCENTRISMO – Estarmos tão obcecados conosco e com nossas próprias conquistas que nos cegamos ao outro.

A INDIFERENÇA – Quando embotamos nossos sentimentos e nos blindamos emocionalmente.  Deixamos de ser humanos e mecanizamos a vida e as relações.

O PRECONCEITO – De toda ordem.  Pois, preconceitos nos oferecem uma visão precipitada, intolerante e distorcida das pessoas.

O NARCISISMO RELIGIOSO – Que julga todo o bem do mundo somente em nós mesmos. 

 

2.      A DIMENSÃO DA COMPREENSÃO – Onde formamos nossa mentalidade.  Como compreendemos Deus, o próximo, a vida.  Aqui, transcendendo os sentidos e as emoções, construímos a nossa visão de mundo.  Alcançamos a inteireza da fé que pensa.  Construímos juízos com equidade, ponderação, imparcialidade, sabedoria e graça.  Talvez possamos chamar isso de maturidade, quando a razão dialoga com o sentimento e a fé. 

3.      A DIMENSÃO DA FÉ – Condição de todos aqueles que interpelados pelo falar divino e movidos pelas suas convicções mais profundas da alma,  são envolvidos pelo μυστήριο de Deus.  Ao longo da trajetória humana, Deus insuflou seus sonhos e sua palavra no coração humano, produzindo os grandes eventos da história da fé.

4.      A DIMENSÃO DAS AÇÕES – Quando movido por todas essas realidades somos impulsionados ao serviço. No espírito da parábola do bom samaritano, penso que, não se consegue “fazer-se como..., para...” sem atitude, sem aproximação física.  Estou falando de sermos pragmáticos mesmo.  O próprio Cristo nos falou sobre o risco da fala sem ação em Lucas 6:46,  “E por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo?  O serviço no Reino de Deus nos envolve plena e integralmente. Reportando-nos mais uma vez a parábola do bom samaritano, percebemos nela todas essas dimensões. 

A COMPAIXÃO DO CORAÇÃO – Quando é capaz de ver o que, ou quem, ninguém queria ver.  

O OLHAR PARA ALÉM DE SI – Mais do que o olhar para sua tarefa, seu tempo, sua segurança, sua vida.  Mais do que um olhar qualquer. Um olhar divino.

 A ATITUDE – Que nos desprende de nós mesmos e nos dirige ao outro. Fazendo interromper nossa trajetória bem traçada de vida.

O ENVOLVIMENTO – com o outro e suas situações.

O EXPÔR-SE AOS RISCOS – Amar nos expõe a riscos. Ora, diga isso Jesus.  Se queres amar sem submeter-se aos espinhos, esqueça.  Isso não existe. 

DEIXAR DE SI NO OUTRO – O que talvez mais mantenha-nos cegos e afastados do próximo, pois tememos o que ele pode tirar de nós, ou o que temos a dar de nós. Num mundo tão mesquinho e tão cedido ao pecado capital da cobiça, isso torna-se um muro trumpiano, que insiste em dizer não quero saber de você e do seu problema.

Jesus Cristo nos deu o exemplo principal quando abria os olhos para ver com compaixão os invisíveis desse mundo. Homens e mulheres para os quais a sociedade fecha os olhos e o coração para não se sentirem constrangidos nem culpados por nada fazerem

ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DAQUELES QUE VIVEM SOB ESSA CONDIÇÃO

1.     1.  Não se limitam as convenções, leis, sectarismo, bairrismos, limites religiosos.

2.     2. São possuidores de uma liberdade incômoda.

3.      3. Vivem sob a bandeira de altos ideais.

4.     4.  São sacrificialmente disponíveis para as grandes causas.

Por fim, diria que, qualquer que queira “fazer-se como... para...” como Paulo e Jesus o fizeram precisam ter a coragem de CHUTAR O PAU DA BARRACA DA PRESERVAÇÃO DA AUTO-IMAGEM, pois como Jesus, quem se faz para com o outro, expõe-se as incompreensões, acusações, rejeições, escárnios e violências.  Seguir Jesus, era expor-se aos conceitos mesquinhos, pobres e perversos dos críticos, principalmente dos da religião.  Comilão, beberrão, amigo de pecadores, filho do diabo. Era isto que diziam de Jesus.  No entanto, ele apenas estava se fazendo como...para, afim de alcançar o coração perdido e carente.  Lição que Paulo aprendeu muito bem, e nós deveríamos nos apressar em aprender também.

 

Abs a todos os meus maninhos e maninhas.


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